3.9.09

[Review] – Para onde o Sigur Rós vai (nos levar) agora?

Bruno Colbachini Mattos


Não há  glória maior que a do pretensioso bem sucedido, e não tenho dúvidas de que esse é o caso do Sigur Rós. Em 1999, antes do sucesso internacional do álbum ‘Ágætis Byrjun’, a banda já prometia em seu site: “não pretendemos nos tornar ‘superstars’ ou milionários. Nós vamos simplesmente mudar a música para sempre, e a maneira como as pessoas pensam sobre música”.  



Arrogância? Até se pode pensar que sim. Mas o fato é que eles cumpriram. E, depois de ter sido aclamada pela crítica e formado uma base sólida de fãs ao redor do mundo, a banda lançou um disco chamado ‘Takk...’ (‘Obrigado...’, na tradução do islandês) – o que nos leva ao contrário. Arrogantes ou não, é preciso admitir: não faltariam razões para inflar o ego dos islandeses.  

Para ter certeza, basta uma rápida olhada na discografia do grupo: depois de deixar o mundo inteiro embasbacado com os arranjos exuberantes de ‘Ágætis Byrjun’, que simplesmente não soava muito parecido com nenhuma outra coisa que as pessoas tivessem ouvido até então, o Sigur Rós deixou a fórmula do disco para trás e lançou o minimalista-até-no-nome ‘( )’, com uma proposta completamente distinta. Em seguida veio o ‘Takk..., um disco maravilhoso de um post-rock pouco mais tradicional, mas com um toque islandês, ou de lindeza, ou sigurrósiano,– que, nesse caso, vem a ser tudo a mesma coisa. Para mim, esses três álbuns formam a melhor seqüência de discos lançada na década por uma mesma banda.




Dessa forma, o Sigur Rós chega ao fim da década seleto grupo de artistas que tem presença garantida nas listas de melhores discos do período, mas não de um disco específico. Animal Collective e Radiohead são as únicas outras bandas na mesma situação de que consigo me lembrar. Mas há uma questão interessante: após três álbuns tão inovadores e bem executados, que espaço resta nessa discografia para o impronunciável ‘Með suð í eyrum við spilum endalaust’, lançado no ano passado? 

O ‘endalaust’ (nome encolhido para fins de praticidade) é um disco de roupagem levemente mais pop que os anteriores (“pop” apenas para os padrões do Sigur Rós, é claro). Arranjos menos extravagantes e andamentos acelerados concederam ao álbum um clima mais alegre – como se esse tivesse sido gravado durante o verão e os outros não. Apesar de ter músicas excelentes (como ‘Gobbledigook’ e ‘Illgresi’), porém, o álbum é... não fraco, mas... menor. 

  

Estaria o Sigur Rós perdendo o fôlego? Eu espero que não. O disco é bom, dentro de sua proposta; afinal, reflete uma banda que, em seu atual estágio de maturidade, não poderia fazer diferente. Indica um novo caminho que a sonoridade do grupo pode seguir, e até que funciona bem como obra de transição. O problema é que fomos mal acostumados. De uma banda com uma discografia como a deles, não se esperam obras de transição - esperam-se obras primas. O Sigur Rós pode pensar ainda mais alto, ir ainda mais longe. E, quem sabe, se propor também a ser uma das melhores bandas da próxima década. Por que não? Pretensiosos que são, já prometeram isso antes, e deram conta do recado. 

Mas o ‘Með suð í eyrum við spilum endalaust’ é bom, viu? Só é foda dizer isso em voz alta.

3 comentários:

  1. Eu tenho exatamente a mesma opinião que vc!

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  2. nossa muito linda a música do primeiro vídeo que tu postou. não parece que se está ouvindo a música, parece que se está sentindo, sei lá difícil explicar

    ótima review, viste (=

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  3. Eles são perfeitos!
    Adorei o que você escreveu sobre eles.

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