[Review] - Se há uma diva hoje na música pop, ela se chama Beyoncé

Rafael Maia


Eu ainda fico boquiaberto com a atitute da Beyoncé ao receber o grande prêmio da noite do Video Music Awards - o astronauta de prata para clipe do ano por 'Single Ladies' - no último domingo, 14 de setembro, em Nova York.

Para quem não se lembra ou não viu o que aconteceu, o hype-cool rapper Kanye West, de cujo trabalho musical eu gosto, subiu ao palco quando Taylor Swift recebeu o primeiro prêmio da noite por melhor clipe feminino com a música 'You belong with me', pegou o microfone da mão da moça e disse algo como 'Taylor, eu vou deixar você terminar de falar, mas a Beyoncé tem um dos melhores clipes de todos os tempos', resumidamente. A moça ficou paralisada, não soube o que falar depois. O rapper saiu às vaias do público que estava no Radio City, na premiação da MTV.

A atitute de Kanye  com uma menina de 17 anos é inexplicável e não merece comentários de mais de duas linhas. Não é a primeira vez que o cara faz isso. No Europe Music Awards de 2006, o EMA, quando seu clipe de 'Touch the sky' perdeu para 'We are your friends' de Justice Vs Simian, ele subiu ao palco e disse: 'Eu deveria ganhar. Se eu não ganho, esse prêmio perde a credibilidade'. Em 2004, quando ele perdeu para Gretchen Wilson o prêmio de revelação da noite, ele afirmou que certamente houve roubo nessa categoria.

Quando Beyoncé recebeu o maior prêmio da noite, justamente pelo vídeo de 'Single Ladies', ela falou rapidamente que ganhou seu primeiro astronauta de prata aos 17 anos com o Destiny's Child e que sabia o que significava. Chamou ao palco Taylor Swift e cedeu seu espaço de glória para a menina.

A atitude humilde e ciente de si da cantora é especialmente relevante em um mundo pop fútil, em que ganham espaço, cada vez mais, produções mal feitas e barulhentas, com gente sem talento e totalmente substituível, e o mercado das fofocas, que se alimenta do universo pop mais do que de qualquer outro lugar.

É visível o esforço de Beyoncé para se tornar um ícone, muito mais do que uma 'cantora', como se isso ela já não dominasse com maestria. Do primeiro álbum solo, o estrondoso sucesso 'Dangerously in Love', que continha seu primeiro single 'Crazy in Love', ao bem feito e bem pensado último trabalho 'I Am... Sasha Fierce', passando pelo duvidoso disco intermediário 'B'Day', Beyoncé se revelou de uma potencia vocal comparável às grandes divas da legendária gravadora Motown e da Disco Music, como Donna Summer e a excelente Diana Ross, e uma performer que, essencialmente, se apresenta com o coração. 

Veja apresentação de 'Single Ladies' no VMA desse ano

Ela é e sempre será, para a história da música mundial, uma referência de pessoa que nasceu para fazer o que faz, mas que não fica imóvel por ter um talento formidável. Ela se arrisca, busca influências passadas complicadas, tanto no modo de vestir como no modo de cantar, e produz, mesmo com alguns erros ou má escolhas, materiais sonoros muito honestos, autorais e feitos com o desejo de que tudo funcione.

Eu posso até estar exagerando. Eu posso ter me apaixonado por ela naquela momento e todo o resto acabou me cegando de alguma maneira. Mas não creio que isso seja importante. Eu não entendo muito bem o que para a música a palavra 'diva' quer dizer de fato. Penso que ela se ligue mais ao conjunto de atos de determinado artista, que afetam a formação da sua imagem junto ao público, do que realmente ao trabalho musical. Mas a palavra existe, ela está aí e eu não vou negar isso. Se há uma 'diva' hoje num universo musical com Britney Spears e Crazy Gaga Lady Gaga, ela se chama Beyoncé. Sem contar, obviamente, que ela é linda da cabeça aos pés, só para ser leve com a beleza extraordinária da moça.