13.8.09

[Review] - Little Joy, vida e obra (2008 e além)

Por Bruno Cobalchini Mattos


Sustento a teoria de que, na época do Los Hermanos, o Camelo fazia música pra mina que fugiu dele no dia anterior; o Amarante, pra mina que fugiu com ele no dia anterior.* Mas de lá pra cá as coisas mudaram: a vida sentimental do Marcelo Camelo virou material pra coluna de fofoca. Rodrigo Amarante, por sua vez, casou-se, e agora se contenta em segurar vela pro casal de amigos Fabrizio Moretti (baterista dos Strokes) e Binki Shapiro, moça de belíssima expressão (tanto vocal quanto visual).

Para além da beleza de Binki Shapiro e da presença de um indie famoso, vejamos o que a banda tem a nos oferecer. Não muito, à primeira vista. Em uma primeira audição, fica a impressão de que temos aqui uma mistura de elementos dos Strokes, com uma ou outra canção que poderia estar em um álbum do Los Hermanos. Uns toques de Velvet Underground'também, o que acaba parecendo... Strokes. A diferença maior fica por conta do clima de praia, contrastando com o quinteto nova-iorquino.



Mas não se tratam das praias cariocas com que os fãs do Amarante estão acostumados. Não, o negócio aqui é Califórnia – com direito a todo o êxtase do clichê. Apesar de não trazer nada de novo, o disco esconde uma pérola. É a mui bela 'Unattainable', cantada pela também mui bela Binki. É uma das canções românticas mais fofinhas lançadas nos últimos anos. Ao menos no vídeo de divulgação – a versão do álbum (homônimo, lançado no ano passado), apesar de boa, parece pedir por um pouquinho mais de espontaneidade. Outro ponto alto do disco é 'Brand New Start', uma balada pop gostosinha. Lembra tanto trilha de novela de verão que acabou virando... trilha de novela de verão.

'How to Hang a Warhol', uma das músicas que mais lembra Strokes, segue a linha de outro clichê, bem mais divertido do que o californiano: a piada cult contra os cults. Vide clipe abaixo, não-oficial, feito por fãs. Não entendi se era pra ser uma piada com o
Velvet Underground; se era, falhou. Mas dá pra rir – e a música, mesmo soando familiar, é razoável.



É preciso encarar os fatos: o repertório é muito derivativo, as gravações , no geral, não são boas e, consequentemente, o disco deixa muito a desejar. No fim, a sensação é de que o Little Joy deveria lançar um DVD acústico, na linha do Luau MTV. Ainda assim, a banda pode funcionar pra algumas pessoas em audições esparsas. É um pop acessível e sereno; as melodias acabam ficando na cabeça. Pode ser legal pra ouvir no verão, depois do almoço, deitado na rede e sem compromisso, apesar de metade das músicas ser fraca É banda pra esquecer daqui a alguns anos? Talvez, não sei.

Mas lembrarei sempre da experiência de ter visto a apresentação deles em Porto Alegre em fevereiro desse ano, no Opinião. A temperatura no ambiente de 50º. Show de quarenta minutos, porque Fab e Amarante não quiseram tocar canções das suas bandas de origem. O que achei digno, a propósito. Para quem quiser vê-los ao vivo, com repertório aumentado e risco de gripe suína, eles tocam em Porto Alegre hoje. Apresentam-se também amanhã no Rio de Janeiro e no sábado em São Paulo. Informações para a compra de ingressos em http://littlejoynobrasil.com.br

* Não insinuo aqui relação entre tais eventos.

15 comentários:

  1. Você escreve: "É preciso encarar os fatos: a banda não é boa, as gravações não são boas e o disco deixa muito a desejar."

    A NME escreve: "Little Joy might not quite have built a castle in the sky, but they’ve constructed a cosy little corner in our hearts."

    Em qual das duas opiniões eu vou acreditar?

    http://www.nme.com/reviews/little-joy/9974

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  2. Olha, o mais agradável seria não comprar uma opinião alheia mas formar a sua própria, sr. B.

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  3. Porém, se serve de opinião, eu não confiaria na da NME. Afinal, não foram eles que alavancaram os Libertines e os Arctic Monkeys para o sucesso? Isso sem contar no Kaiser Chiefs. Quantas festas tivemos que aguentar tocando o som asqueroso desses roqueiros imundos só por CULPA da NME?

    O serviço da NME deveria ser considerado CRIMINOSO.

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  4. Bernard, tomara que na minha! hahaha

    Eu não discordo dessa frase. Pelo contrário, acho ela muito boa - ainda que, geralmente, eu discorde da NME. Também não acho que a opinião seja incompatível com o que eu escrevi. A Unattainable foi a responsável pelo meu cosy little corner e, realmente, eles não construíram a castle in the sky.

    Enfim, me conta o que achou, quando ouvir o disco. Vou ler a resenha que você me passou.

    Abraços,

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  5. Eu acho que opinião é opinião é opinião, sempre leio e tento entender a dos outros. Mas defendo a minha. Eu não o Little Joy uma banda excepcional, mas confesso que adoro o cd deles, de cabo a rabo. Me deixa tão bem ouvi-los...

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  6. Eu acho o NME danoso. Achei digno eles não tocarem músicas das bandas anteriores, mas a verdade é que acho Little Joy fraco, muito fraco. Não desceu, acho que tô velha demais pra escutar.

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  7. Poxa gostei muito da sua resenha. além de estar muito bem escrita, vc consegue analisar esse projeto sem se deixar se levar pelo fanatismo quase doentio que rondam ambas as bandas(Strokes/Losermanos) aqui no Brasil. apesar de gostar bastante de Strokes, vejo esse projeto como um mero projeto. esse sonzinho não apresenta nada de relativamente interessante ou novo.pra mim, é mais uma banda que vem seguindo o rastro dos clichês Strokianos, alías essa última também nem é tão original assim, pois surge de clichês Velvetianos.mas foi uma banda que teve a sua importância dentro do contexto que surgiu. numa época onde o rock estava caindo novamente no profundo abismo da mistureba progressiva.mais uma vez quero te agradecer pela coragem de vc postar uma resenha sem ter medo das opiniões alheias. acho que um bom crítico musical necessita de ter antes de mais nada duas coisas: coragem e imparcialidade. e pelo que eu pude notar aqui, vc tem de sombra!
    siga em frente!
    abs

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  8. massa a resenha!

    eis minha opinião:

    penso que a má qualidade de gravação comentada é atribuída ao revivalismo, técnico no caso. e eu diria que Luau MTV é mais Jamaica do que Califórnia; Little Joy é mais sintetizadores do que só ecos na areia. tá mais pra gente risonha do tipo não "rasta". e tem também algo a mais de jazz do que Velvet ou Strokes. eu citaria Beach Boys como uma referência que engloba mais os pontos levantados, vide os vocais bem trabalhados também.

    não sou órfão de LH nem tenho atração pelo ufanismo tupiniquim, então, como eu procurava mais rock e urbanicidade na noite, considerei os shows de abertura bem mais interessantes.

    abraço!

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  9. Acho que nada mais normal do que a banda dos ex-integrantes do Strokes e o LH ter um som parecido com o destas. Afinal, o que você parece querer é que os caras revolucionem o próprio estilo musical. Existe gosto pra tudo e é compreensível que tenha muita gente com sede de coisas novas no mercado musical. Mas ainda tem gente (como eu) que não acha LJ "legal pra ouvir (somente) no verão, depois do almoço, deitado na rede e sem compromisso". O fato de você ter cansado desse estilo não significa que a banda é ruim. Se fosse, nao teria tantos fans tão rápido, e nem todos "construídos" pela NME, da qual eu, admitindo certa ignorância, ou nem tanta, nunca tinha ouvido falar.

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  10. Uma banda não pode ser só uma banda? Algo que a gente monta com os amigos pra se divertir e fazer música, mais porque gosta do que pra se tornar uma cânone? Não conheço muito do Little Joy, mas gosto da idéia de despretensão que ele passam.
    Bela resenha, fiquei curiosa com o Little Joy tocando em uma Porto Alegre 50º.

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  11. A resenha é engraçada... Nos momentos em que o autor precisa defender sua idéia, fornecendo projeções e opiniões embasadas, ele acaba fugindo da raia e soltando diversos: "Não sei!".

    Além disso, em alguns momentos ele tenta generalizar, mas peca por não perguntar a opinião de ninguém e, com isso, acaba contrariando tudo o que foi dito (exaustivamente) sobre a banda por diversos outros autores e mídias.

    Resumindo: antes de escrever um texto, faça a lição de casa. E mais! Quem não se compromete, acaba por não dizer nada.

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  12. Sem comentarios...Muito ruim essa autocritica

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  13. Arthur,
    agradeço seu comentário e as suas críticas. Apenas uma ressalva: ouvi a opinião de muitas pessoas sobre a banda sim, e li outras resenhas. Mas nunca foi minha intenção repetir o que foi dito por outros críticos e mídias. Pelo contrário, o que emiti aqui foi uma opinião pessoal, com a qual se pode concordar ou não. Como você mesmo disse, quem não se compromete acaba por não dizer nada. Repetir a opinião da crítica consagrada seria fugir da defesa de meu ponto de vista. Se fosse para fazer isso, acredito que não haveria sentido em escrever qualquer coisa.

    Abraços,
    Bruno.

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  14. Quanto lero lero e clichês nesses comentários, tanto quanto a banda tem.Eu me contento a gostar ou não gostar do som, acho suficiente, assim como o autor do texto (pelo que entendi, não gostou da banda), elencou argumentos para defender o seu gosto, nada demais...Eu gostei do texto, só não acho melhor do que a banda.Continue no bom trabalho de reviews amigo! São originais nos pontos de vista, o que acho ótimo.

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