27.8.09

[Review] – O que falta em José González?

Bruno Colbachini Mattos 
 

A música de José Gonzalez é como strogonoff feito com carne de soja: parece ótimo à primeira vista, mas depois você percebe a falta de consistência. Violonista de talento, González tem também bom timbre de voz e estilo marcante. É difícil, portanto, entender exatamente o que falta no ‘singer-songwiter’ sueco. 


Com dois álbuns lançados (‘Veneer’ em 2005 e ‘In our Nature’ em 2007), José me parece um artista de grande potencial, mas que ainda precisa evoluir bastante. Nessa resenha, aponto aqueles aspectos que considero cruciais* para que o músico, quem sabe, se torne um dos grandes nomes da música popular contemporânea. 
* Não me proponho a assumir o papel de dono da verdade: trata-se apenas de uma opinião subjetiva, tão válida quanto qualquer outra. Afinal de contas, não existe receita para o sucesso artístico. O que proponho, na verdade, é um exercício de reflexão, naturalmente aberto ao debate.
 


1 – Técnica vocal: González tem uma voz bonita e agradável, mas poderia fazer melhor uso dela. A impressão que tenho ao ouvir os discos é de que o sueco ousa pouco enquanto canta: é sempre o mesmo volume, o mesmo tom, o mesmo 'timming'. Uma possível causa é a aparente timidez de José, que parece quase constrangido em suas apresentações. Pode até ser que agrade a alguns, mas eu acho ameno demais.  Por causa disso, ótimas composições acabam se tornando monótonas, como se fizessem parte do repertório de uma banda medíocre de ‘twee pop’.

2 – Adicionar outras texturas: claro, não proponho que o músico seja acompanhado por uma banda completa. Nem acredito que tal coisa fosse interessante: José tem uma maneira bastante percusiva de tocar violão, e sabe tirar bom proveito disso. Grande parte de suas músicas, portanto, têm uma estrutura bastante fechada, apresentando um ambiente claustrofóbico. Em alguns casos, porém, acredito que a inclusão de outros instrumentos (um acordeon ou violinos, digamos) músicos seria benéfica. Seria uma forma de adicionar novas texturas às suas gravações e tornar seus discos menos monocromáticos. Além disso, o caráter minimalista de seus arranjos acabaria por ressaltar os outros instrumentos. 

3 – Técnica de gravação: por falar em arranjos minimalistas, não entendo o porquê da opção por gravações ‘lo-fi’ para um disco de ‘folk’ voz e violão, embora elas sejam relativamente comuns. José González toca violão muito bem, e o instrumento é um dos que tem melhor ressonância com a voz humana. Seria interessante ouvir as músicas dele em gravações limpas, que dessem atenção aos detalhes da voz e ao som dos dedos batendo contra as cordas. 

4 – Lirismo: sim, é preciso dar um desconto. José González não é falante nativo de inglês e optou por escrever nessa língua com o nobre objetivo de atingir um público maior. Acontece que o vocabulário limitado dá um aspecto quase infantil para alguma de suas letras. É uma questão de maturidade poética que só virá com leitura e uso freqüente da língua. Oportunidades para isso ele deve ter de sobra em suas turnês internacionais, e acho que a situação deve melhorar com o tempo. Certa vez um amigo disse que “as melhores músicas do José González são ‘covers’” (vide ‘Heartbeats e ‘Teardrop’), e acho que em parte é por causa das letras.

4 comentários:

  1. Acho seu ponto de vista compreensível, não sei quanto tempo de carreira ele tem, mas uma misturada no estilo, agregasse outros aspectos na música, seria uma grande evolução. até porque nas participações com o zero7 ele dá um show

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  2. Eu achei bem citado alguns comentarios, e até concordo com vc no ponto em que vc diz que ele sente um pouco de vergonha no palco,mais não sei quantos anos de carreira ele tem,mais ele tem muito tempo pra melhorar ainda, e com o zero7 e realmente dá show como turatti disse

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  3. Acho válido tudo o que foi dito, uma vez que foram feitas observações inteligentes e técnicas. Mas ao mesmo tempo, não concordo com a grande maioria, pois acho que (é a minha opinião, ok amigos?) esse minimalismo da música de José, é o que faz com que tenha esse toque especial, e acabe não parecendo com ninguém. Ele sabe usarbem o silêncio. Não há hoje violonistas-compositores-cantores como José Gonzalez. Nem mesmo Nick Drake, que foi uma de suas influências, ou William Fitzsimmons, Iron & Wine ou Fink.

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  4. Adoro strogonoff de carne de soja e acredito que a verdadeira complexidade está personificação da simplicidade. E é isso que eu visualizo em José Gonzáles. A simplicidade de uma criança, na compreensão de um adulto.

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